segunda-feira, 30 de junho de 2014

Capítulo 10 - Desordem

As pessoas julgavam que tinha mania de sair das coisas tão rápido quando entrava nelas, sinceramente é difícil para mim avaliar se elas estavam certas, afinal minhas atitudes se contradiziam muito com meus pensamentos, eu era composta da mania de fingir para me sentir protegida.

Depois que tentei buscar o MAD percebi que não conseguiria mais nada dele, excerto por um afastamento ainda maior, depois que isso aconteceu me forcei a conhecer outras pessoas, a principio ninguém chamava atenção até que... Ela apareceu...


Minha primeira e única namorada, Malice. No dia que nos conhecemos ela estava fumando no meio da rua, me parou e perguntou se tinha um esqueiro, aquilo foi o suficiente para que uma conversa fosse iniciada, então quando ela me disse seu nome, rapidamente me lembrei que o MAD pertenceu antes de ser um artista solo a uma banda com aquele nome.

A Malice não tinha muita coisa parecida com MAD, porém na minha cabeça o nome fazia indicações como se fosse um retorno dele para mim, eu sei que era errado pensar dessa forma, mas as diferenças entre ambos só começaram a aparecer algum tempo depois.


Lembro que no período que namorávamos eu costumava ficar muito bêbada, também foi quando descobri a graça do tabagismo, porque Malice gostava desses tipos de coisas, além das drogas que ela costuma se aplicar quase que diariamente... 

Malice era uma pessoa descompensada, macabra diria... Não no sentido literal, mas para que nunca tinha visto tanta loucura em um lugar só, ela era a personificação da anormalidade.

Nós tínhamos uma boa relação, pelo menos no começo, o que acabou foi o excesso de ciúmes por causa do MAD, me lembro bem o que aconteceu uma certa noite entre nós na cozinha da minha casa.

- Você acha que não percebo?! Eu sou cega por acaso?! - O descontrole era imenso, mesmo ela não tendo usado uma única gota de álcool naquele dia.
- Não compreendo, o que significa isso? - A minha voz estava calma no primeiro momento.
- Eu vejo como você olha para ele, não sou burra! Eu sinto no seu beijo, na forma como você me olha também! - A raiva transmitida nas palavras foi nítida.
- Malice, juro que não, por favor, me escute - Tentei explicar que era um delírio dela, mas ela me lia tão fácil que era difícil disfarçar que estava certa.

Sempre foi assim, usei uma mulher para me esconder da decepção com o mundo masculino, a usei por acreditar que algo nela pudesse ser igual ao MAD, contudo foi ela quem acabou obcecada por minha causa, situação que começou a incomodar nós duas.

- Você é uma desgraçada!!! Uma mentirosa filha da puta!!! - Os olhos estavam cheios de indignação sobre mim, cada palavra sai tão forte que parecia que ira rasgar suas cordas vocais.
- Não.. Eu realmente gosto de você, não fale essas coisas - Sentia minha pernas bambas, meu corpo estava tremendo observando o descontrole dela, rezava que minhas palavras desfocassem sua atenção desse fato.

Por um segundo achei ter dado certo, só que vi mexer na gaveta da cozinha meu sangue congelou, a sensação foi tão ruim que não desejaria isso para ninguém, mesmo porque eu parecia já prever o que vinha a seguir.

- Se quer ficar com ele, vai!! - Ela berrou.
- O que você está falando? - Tremi olhando a faca que ela segurava na mão.
- Eu quero acabar com isso, só tem um jeito... Se te matar ou se eu morrer - Sobriamente ela disse sem fazer cerimônias.
- Então... Me mate - Respondi sem pensar muito deixando um seco escorrer na minha garganta. Na minha cabeça era algo justo, eu a tinha atormentado e não queria que ela se machucasse.

A ideia de morrer no final não parecia ruim, talvez assim pudesse parar de sofrer e fazer os outros pararem de sofrer junto. Mas as palavras dela a seguir revelaram o quanto ela não podia fazer o que dizia, pelo menos não em relação a mim. 

- Não posso machucar você, porque amo você - Os olhos estavam cheios de lágrimas, o corpo dela parecia que iria desabar.
- Então... Só fique comigo compensarei você pelas minhas bobagens, não irei mais te fazer sentir assim, me deixa tirar esse sofrimento de você - Tentei parecer calma, embora por dentro a imagem da lâmina estivesse me deixando com muito medo.
- Não, eu vou me matar na sua frente para que entenda o quanto é ruim o que fez comigo - Com um único movimento ela direcionou a faca para si.

Corri segurando a mão dela e começamos a brigar até que a faca acabou fazendo um corte longo e profundo pelo meu braço direito, a sensação da carne rasgando me fez gritar, o sangue quente já estava escorrendo até a ponta dos dedos. Os olhos dela naquela situação choraram como se estivesse enlouquecido, enquanto eu chorava segurando no ferimento.

- Por favor, não se machuque por minha causa - Supliquei a ela com tudo que podia.

Se ela tivesse me escutado não teria me obrigado a ver aquela cena horrível dela cortando o próprio pulso.

Eu estava gritando dentro da cozinha vendo aquele sangue todo, meu impulso foi correr para pegar o telefone e ligar para emergência. A ambulância chegou minutos depois para levar ela para o hospital.

Por sorte o atendimento foi rápido, ela ficou fora de perigo logo, porém não quis me ver. 

Eu sentia que ela estava fora de controle e que nas mãos dela não duraria mais, só que estranhamente depois do fato nada foi igual, logo ela sumiu da minha vida exatamente como tinha entrado sem que pudesse fazer absolutamente nada, não sei se ela morreu ou ainda esta viva, mas sei que ela nunca mais me procurou.

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