Capítulo 3 - Desilusão

"Você ignora determinadas coisas pela falta de conhecimento, você não conhece a si mesma, nem mesmo possuí a noção de caráter" - Ayu.

Ao acordar de manhã senti como se meu corpo tivesse sido esmagado, a sensação se resumia unicamente a desconforto, apertei os meus olhos de um jeito estranho quando foquei no lado da cama percebi que não se tratava de um sonho o que aconteceu na noite anterior, Mike eu realmente havíamos dormido juntos. O homem se fixou em mim dando um bom dia um tanto preguiçoso, depois rolou seu corpo para cima de mim dizendo.

-Bom dia, a minha princesa se senti bem?- Ele brincava com a palavra "princesa" desde a noite passada, aquilo me fazia ficar embaraçada. 

-Não me olhe assim! - Disse tentando puxar o coberto para ele não ficar observando a parte do meu corpo que se mantinha desnuda, ao invés de responder a pergunta dele prolongava aquele meu ato infantil.

-Não sei porque se senti tão embaraça.. Ayu... Eu já vi tudo que você tem, ainda quer se esconder de mim- Aquela brincadeira era um tanto machista, mas me fez pensar que estava sendo tola por agir daquele jeito tímido.

-Eu... Só... -Comecei a tentar me justificar, entretanto ele logo me cortou.

-Fiquei surpreso com você ontem, não imaginava que tivesse um lado ousado.

Os meus olhos se arregalaram, "Mas que raio de coisa ele esta dizendo?" pensava eu. Onde estava o meu lado ousado naquilo? Somente me sujeitei aos carinhos dele. No começo foi bastante chato para ele e para mim, cheguei a pedir para ele ser mais cuidadoso, só que de certa forma o Mike tinha um dom especial para conduzir as coisas, depois com o tempo fui me acostumando com aquela sensação nova.

-Você esta exagerando, não acha?- Suspirei pesadamente tentando não parecer mais corada do que estava.
-Claro, que não. Você terá que trabalhar hoje? - Ele me disse com um tom de quem suplicava para que desse uma resposta negativa.
-Sim, tenho uma reunião hoje, mas podemos nos ver depois, tudo bem por você?- Tentei parecer consola-lo com aquela voz doce que sabia usar em momento críticos de um jeito natural.

Ele torceu a cara de um jeito estranho como quem reprovava o fato de ter que sair, contudo não havia outra solução para ele a não ser a de aceitar o que fazia.

Com o passar dos dias Mike e eu nos encontrávamos sempre pelo menos uma hora por dia, costumávamos falar de coisas como músicas, animes, doramas até assuntos mais sérios como política e astronomia. Confesso que ele tinha assuntos que nunca me faziam acha-lo tedioso.

10 dias após o fato ocorrido entre nós dois na casa dele, um fato estranho ocorreu, recebi uma mensagem diferente das dos dias anteriores, Mike havia solicitado um encontro comigo em um restaurante pouco conhecido da região, ele ficava localizado mais ao Oeste da cidade, conhecia a cidade bem o suficiente para saber que aquilo se tratava de uma fuga de fotógrafos. O que me deixou preocupada na verdade não era a localização do encontro foi a forma direta que ele falou, o que fez a minha mente gritar "Afinal de contas o que ele queria conversar comigo?", sua mensagem não passava de duas linhas no meu celular.

"Preciso te ver, me encontre no restaurante Amai às 14:15"

Conferi no relógio faltavam exatamente uma hora para o horário marcado. Tive que dar um jeito para adiar alguns compromisso para mais tarde, então na hora marcada cheguei ao restaurante.

Quando vi meu primo ele estava acompanhado de uma mulher que nunca tinha visto na vida, a cena me deixou muito intrigada, a principio pensei que podia ser uma advogada ou coisa do gênero. Ao me aproximar tive a certeza que estava sendo precipitada ao pensar aquilo, a confirmação de que não se tratava nem perto do que imaginei foi quando ele sorriu tocando no ombro dela, a sensação do meu corpo era uma onda elétrica de ódio que subia gradativamente por vê-lo encostar em uma mulher que não era eu, mas aquela raiva apenas era a ponta de onde tudo começaria.

-Ayu! Você veio, agora a felicidade será completa- Ele sorriu com uma expressão tão verdadeira que pensei que se tratava de algo surpreendente, de fato não deixava de ser.
-Mike, por que me chamou? Quem é.... - Eu iria começar a perguntar, porém ele se adiantou.
-Prima, quero lhe apresentar a minha noiva, Sayuri - Ele olhou para ela de um jeito que me fez tremer.
-Hã?! - Foi a única coisa que conseguir dizer no primeiro momento.
-Prazer Ayumi, o Mike fala muito de você. Ele falou que ajudou ele durante a fase de separação dele, não é?- A mulher sorriu inocentemente.

Não sabia se aquilo se tratava de uma piada, só que realmente era de extremo mal gosto me pedir para ir aquele lugar e no final me fazer passar por aquilo, principalmente porque ele sabia o esforço que tinha feito para ir até aquele lugar.

Ficamos cerca de 30 minutos, nada foi esclarecido, ao contrário só havia afirmações. Sayuri sorria contando como conheceu Mike em club, cada frase daquela mulher me engasgava me dando o pressentimento que estava prestes a vomitar, porém devido a minha forma de ser antigamente, eu não me permitia ser direta. No final da conversa estava ferida, me sentindo como uma grande piada, então era isso que as pessoas faziam com as outras? Era assim que era amar alguém?

Mais tarde procurei Mike em sua casa em busca de uma explicação digna, nem eu poderia prever aquela mudança de comportamento, a única coisa que tinha quase certeza era que essa seria a nossa ultima conversa para sempre.

-O que foi aquilo no restaurante? Por que você fez aquilo? Me diga que era uma brincadeira- Disse controlando o tom da voz.
-Você não viu a Sayuri? Não foi uma piada Ayumi! Eu vou me casar - Ele parecia com a voz tão natural que me fez duvidar que ele era o cara para quem havia me entregado.
-Então você estava dormindo com ela, enquanto estava comigo?- O tom saiu com tanta magoa, porque não acreditava na situação.
-Ela te disse que a gente se conheceu antes da minha separar, na verdade Arisa sabia que tinha uma atração por ela e vivíamos brigando por isso, depois que me separei eu quis ela... Você era o acidente no meio do caminho- Mike desprendidamente parecia debochar pela forma como jogava aquelas palavras sobre mim.
-O quê? Mas você disse que me amava! Por que nem dignamente me disse que estava com outra? Por que me fez acreditar em você- Avancei sobre dele e comecei a esbofeteá-lo nos braços, enquanto lágrimas desciam.
-Por que queria me divertir! Sabia que você era virgem, eu tinha curiosidade de me deitar com uma mulher que nunca foi tocada- O canalha se aproximou mexendo nos meus cabelos tentando forçar um beijo imundo.
-Você é um filho de uma puta! Um animal- Eu o empurrei gritando.
-O animal com que você fez questão de se deitar, não é?- Despejou ele em minha cara ironicamente o fato que gostaria que nunca tivesse acontecido.
-Nem decência você teve comigo, você ainda me levou lá para falar com sua noiva- Estava entre lágrimas e ódio, onde não conseguia parar de esbofetear o corpo dele quando ele ficava muito perto, mesmo que ele não bloqueasse minhas agressões, não me sentia melhor com aquilo.
-Era a forma de fazer entender que para mim  você nunca significou nada... Você foi apenas uma curiosidade, só te mantive do meu lado por conveniência. Não tenho culpa se você é ingenua de acreditar que um homem tem interesse por alguém tão desinteressante e travada na cama, Ayu na real, você é muito idiota! Não satisfaz nem a si mesma, se você falasse antes que era falta de experiência tudo bem, mas nos mantivemos relações durante esse tempo, percebi que cansei de brincar de casinha contigo- As palavras foram mais cruéis que a própria maneira como ele falava aquilo.

Desisti de descontar a minha raiva sobre aquela verme inútil, a decepção era maior do que podia prever, não sei se ele tinha mudado ou se sempre havia me engano, apena queria que ele desaparecesse para sempre.

Corri pelo caminho que entrei, o caminho pelo qual desejaria ter esquecido que um dia conheci, depois do Mike nada seria a mesma coisa na minha vida, porque a mulher que uma dia tinha acreditado no conto de um cafajeste, agora estava se determinado a mudar o jogo. Me determinei que nunca mais um homem pisaria em mim de novo, nem que para isso fosse a pessoa mais suja do mundo.